quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Esses Animais

 

O cara entrou naquela boite, seco praz matricular alguém na estatística, já fazia algum tempo que ele não afogava o ganso e ele entrou ali disposto a abrir a temporada de caça, era época de copa do mundo e ele, para combinar com a moda, estava vestido com a camisa da selecção canarinho.

Inicialmente ele pediu uma cerveja e deu uma olhada geral no ambiente para ver se detectava alguma vítima sobre a qual ele pudesse fazer um voo rasante, afinal de contas seu instinto de rapina era testosterona pura. Do outro lado do salão ele viu duas pombinhas soltas que poderiam servir, pelo menos como aperitivo, mas neste mesmo instante passou, próximo a ele, uma verdadeira cavala e, instantaneamente, ele descartou as longínquas pombinhas, pois mais vale um pássaro na mão do que dois voando, não é verdade? Ele pensou consigo mesmo: “nesse mato tem coelho.”

Imediatamente ele pôs mãos à obra e iniciou o ataque, parecia que seria um ataque mais tranquilo que pernilongo em quarto de surdo, porém o que ele não sabia é que ela estava acompanhada e quando percebeu, ele, que frequentava a noite desde os tempos em que se amarrava cachorro com linguiça, imediatamente se afastou porque macaco velho não bota a mão em cumbuca e como já passara por poucas e boas, ele saiu fora, afinal gato escaldado tem medo de água fria. O tiro ao alvo continuou animado e à medida que o tempo passava e ele não conseguia nada, ele começou a rememorar os bons tempos de garanhão em que cada enxadada era uma minhoca, ah! Que saudades! Mas ele resolveu perseverar porque cobra que não anda não engole sapo e bom cabrito não berra.

Um tiro aqui, outro ali e nada, ele começava a ficar preocupado e, com medo de pagar mico, resolveu então apelar, a primeira que passasse em sua frente ele chegaria junto e assim foi, passou uma senhora loiraça e ele começou a cutucar a onça com vara curta:

-Oi gatinha.

- Desculpe, mas eu estou acompanhada.

- Não tem problema, eu não sou ciumento.

- Você não quer me dar um beijinho?

- Nem que a vaca tussa.

- Por que gatinha?

- Porque o meu namorado é grande viu.

Neste momento surgiu o tal namorado, gigante pela própria natureza, um verdadeiro armário, o cara devia ter escritura ao invés de certidão de nascimento, era forte como um touro; nosso amiguinho ficou da cor de burro quando foge, a moça então se dirigiu ao namorado e comunicou a ele que o nosso amigo a estava importunando, o armário o olhou de cima em baixo e, com um sorriso de menosprezo no rosto, disse: “não se preocupe benzinho, cachorro que ladra não morde”, neste momento o franco atirador se queimou, achou que era hora da onça beber água e desafiou o armário, agora não tinha mais jeito e é nessa hora que a porca torce o rabo, a vaca foi pró brejo, com certeza ia dar zebra e deu, ou melhor, deu um bode danado, o grandalhão pegou a primeira garrafa que viu e mandou em direcção ao nosso conquistador que se abaixou e a garrafa foi acertar um sujeito que nada tinha a ver com a confusão, mas que acabou pagando o pato porque na briga do mar com o rochedo sempre quem paga é o marisco. O pau comeu, era sopapo para todo lado, bumbas-meu-boi, rabos-de-arraias e outros bichos, em determinado momento o armário se fechou em cima do conquistador quase tirando-lhe som e imagem, um verdadeiro abraço de tamanduá, um amigo do “Dom Juan” ao ver a confusão, simplesmente fez que não viu, um genuíno amigo urso; neste instante, o nosso amiguinho já apanhava mais que boi ladrão.

Apareceram então os leões de chácara da boite e conseguiram interromper o espancamento, mas não sem antes ouvir o halterofilista dizer: “isso é para você aprender a não mexer com a mulher dos outros. Vai mexer com alguém do seu tamanho. Cada macaco no seu galho viu ô seu galinha.” O estrago tinha sido grande, dentes já não existiam, ele teria que comer queijo ralado como rato banguela por um bom tempo.

A estratégia não tinha dado certo, ele que começara a noite a todo vapor mais parecia agora um cavalo paraguaio, engraçado como as coisas se repetem ciclicamente né? Décadas atrás a mesma coisa tinha acontecido com o pai dele em uma gafieira, é! Filho de peixe, peixinho é, mas como boi sonso que era e como também não tinha memória de elefante para se lembrar da lição, ele acabou levando um sossega leão para ninguém botar defeito.

Tempos depois, o nosso amigo conquistador, já recuperado da carraspana, resolveu ir à uma balada menos glamourosa, até porque ele estava mais duro do que pau de galinheiro e desta vez sim, tudo deu certo, a primeira vítima que desfilou diante dos seus olhos de lince foi fisgada com uma facilidade de se desconfiar; papo vai, papo vem e quando a pantera começou a soltar a franga, o nosso camarada viu que havia alguma coisa errada, realmente a Coca-cola era Fanta, mas como o seu teor alcoólico já era bastante elevado e como quem morre de véspera é peru, ele pensou consigo mesmo: “que se dane, quem não tem cão caça com gato. Mas se os outros notarem? Azar o deles, enquanto os cães ladram a caravana passa. Afinal de contas já fazia muito tempo que ele se comportava como gato de armazém e ele não estava mais disposto a seguir o axioma que diz que passarinho na muda não canta.” Ele então caiu dentro com beijo na boca e tudo, naquele momento a sua vontade era matar a cobra e mostrar o pau (literalmente).

* Este texto integra o Livro "Humor Crónico" - Editora T+8 - Rio de Janeiro - RJ – 2008 - Por: Leon Scaravello

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